Trecho de 70 quilômetros entre Passo Fundo e Ronda Alta acumula problemas. Especialista defende a reconstrução da estrutura
O trajeto entre Passo Fundo e Ronda Alta, no norte do RS, tem cerca de 70 quilômetros pela RS-324. A viagem de uma cidade a outra deveria ser rápida, não fossem as más condições da pista. Motoristas têm reclamado da quantidade de buracos e deformações no trecho.
A borracharia do José Oliveira fica em Pontão, no meio do caminho, e o número de atendimentos cresceu. São clientes que precisam de socorro na estrada ou que conseguem chegar à oficina.
— Fiz um atendimento às 20h saindo para a Ronda Alta. O cara estourou um pneu no buraco e custou para ele R$ 150, porque eu tenho custo de viagem. Então assim, está pegando fundo no bolso do povo — conta.
A busca pelo serviço acontece praticamente 24 horas por dia. Entre os atendimentos, alguns pneus chegam sem salvação, o que representa mais prejuízo para o motorista.
— Por semana, de buracos, são uns 40 atendimentos. Dá pra salvar metade disso. De 30, tu salva 15 e o resto é perdido — diz.
O agricultor Edson da Silveira foi um dos que precisou de atendimento do borracheiro, em mais de uma ocasião:
— Furei pneu, muito pneu. Em uma noite, furei dois pneus numa vez só no buraco que vinha de Ronda Alta. Caí e não teve jeito, essa estrada sai cara para nós, para toda a comunidade — relembra.
Em alguns trechos, os motoristas não têm para onde escapar. Há buracos dos dois lados da pista.
Entre Pontão e Ronda Alta, por exemplo, um grande buraco surgiu e os veículos precisam invadir a pista contrária para desviar. Caso dois carros ou caminhões estejam passando ao mesmo tempo, ou o condutor espera, ou passará no buraco.
Equipes do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) estão, desde o último sábado (11), atuando no trecho em uma operação tapa buracos. Conforme o departamento, há cerca de 30 dias outra ação foi feita para melhorar as condições da rodovia.
Todavia, segundo o professor de engenharia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Francisco Dalla Rosa, a situação da RS-324 pede uma intervenção mais profunda para solucionar o problema.
— O que precisa ser feito pelas imagens que a gente observa lá é, na verdade, a reconstrução de boa parte da estrutura. A gente fala em remendos profundos que demandam recursos financeiros elevados, para poder colocar em dia o funcionamento da rodovia, permitindo que a gente tenha o funcionamento correto dela e que o custo de transporte seja adequado ao que se espera — explica.
A observação técnica é a compartilhada por quem transita pela rodovia diariamente:
— Teria que fazer uma camada nova de asfalto para aguentar, porque tu podes olhar onde fica uma água empoçada ali, é duas chuvas e já começa a abrir buraco. E aí abre cratera, né? Tem buraco que tem 30 centímetros — pontua Edson.
De acordo com o professor, é compreensível a execução de reparos emergenciais para a recuperação para manter uma mínima trafegabilidade. Mas é preciso avaliar a longo prazo.
— Nem sempre a melhor técnica é utilizada, por isso a gente acaba optando muitas vezes trabalhar com um planejamento de alocação de recursos financeiros, um planejamento de engenharia. Um planejamento robusto por trás, para tentar acertar o momento ideal em que a gente tem que aplicar a restauração do pavimento — finaliza o especialista.