Procedimentos eram realizadas de forma sistemática e sem qualquer critério dentro da Secretaria de Bem-Estar Animal. Orientação era abater cães e gatos mesmo que tivessem chance de sobreviver com tratamento adequado, aponta a investigação. Pelo menos 498 animais foram mortos em 8 meses.
Foto: Quem é a ex-secretária de Canoas suspeita de determinar eutanásia de cães após usá-los para receber doações no RS — Foto: Reprodução/redes sociais A Polícia Civil indiciou a ex-secretária de Bem-Estar Animal de Canoas, o marido dela e a veterinária que era responsável técnica da pasta por um esquema de eutanásia de animais para reduzir custos da prefeitura com o tratamento dos animais e bater metas.
🔍 A eutanásia é um procedimento que, na medicina veterinária, é usado em casos onde o animal em tratamento de saúde não tem chances de recuperação.
Pelo menos 498 animais foram mortos em 8 meses, “uma matança desmedida”, segundo a polícia. Em todo o ano de 2024, quando o secretário era outro, foram 354, mesmo diante da demanda gerada pela enchente que atingiu o RS.
Paula Lopes foi indiciada por associação criminosa, maus-tratos e falsidade ideológica – ela foi exonerada do cargo; Marcelo Vieira, por associação criminosa – mesmo sem cargo público, prestava serviços na secretaria; e Tainara Harth por falsidade ideológica, maus-tratos e associação criminosa – ela é uma funcionária terceirizada e foi afastada da função pela prefeitura. Todos respondem pelos crimes em liberdade, pois a polícia não pediu a prisão deles porque não demonstraram risco de fuga.
O advogado de Paula disse que ainda não foi notificado do indiciamento e que não teve acesso aos autos do inquérito, razão pela qual deve se manifestar posteriormente. O g1 e a RBS TV tentam contato com os advogados responsáveis pelas defesas de Vieira e Tainara.
De acordo com a delegada Luciane Bertoletti, responsável pela investigação, “eutanásias eram realizadas de forma sistemática e sem qualquer critério dentro da Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas“.
“A finalidade era financeira. Havia uma vontade de diminuir custos e aumentar atendimentos, exames e procedimentos dentro da secretaria para atingir metas. Tratar um cachorro é muito mais custoso que eutanasiá-lo”, afirma a delegada Luciane.
Provas obtidas pela Polícia Civil indicam que havia pressão para sacrificar animais que poderiam ser tratados e que os profissionais da pasta eram orientados a preencher atestados de óbito de forma irregular.
Por exemplo: foram feitas eutanásias em gatos diagnosticados com FIV (HIV felina) ou FELV (leucemia felina) mesmo quando havia possibilidade de tratamento. O mesmo era feito em cães com cinomose. Houve o caso de um cão com fraturas múltiplas que teve os membros amputados em vez de passar pela cirurgia ortopédica indicada. Além disso, atestados de óbito de animais mortos via eutanásia eram distribuídos para que veterinários assinassem.
A investigação também sinaliza que deixar em branco a data da morte dos animais era uma prática recorrente, e que o objetivo disso seria criar a aparência de que teriam passado por algum tipo de tratamento antes de serem mortos.
“Não existiam documentos de 2025 [sobre os tratamentos e mortes]. Eles (os indiciados) sumiram com esses documentos de forma proposital”, diz a delegada Luciane.
A Polícia Civil suspeita que a ex-secretária teria resgatado animais, usado cães nas redes sociais para obter doações e, então, determinado a eutanásia deles, situação que ainda está sob investigação. Paula responde por lavagem de dinheiro e estelionato.
Conforme a delegada Luciane, a polícia já tinha indícios de uma alta quantia movimentada nas contas bancárias de Paula. A suspeita é de que os valores depositados a título de doação para ajudar animais resgatados por ela e postados nas redes sociais seriam usados em proveito próprio.
“As protetoras de animais nos relatam que é muito dinheiro gasto com o tratamento de bichos, e nos estranha o fato de ter dinheiro em casa enquanto ela pedia nas redes sociais. Queremos saber exatamente a origem desses valores”, afirma Bertoletti.
Ela se refere ao fato de terem sido encontrados R$ 100 mil em espécie na casa da ex-secretária durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em setembro deste ano.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/U/i/FEve5pSFunolcViEWDew/g1-13-.png)
Paula Lopes, em pronunciamento na internet — Foto: Reprodução/Redes sociais/Instagram
(55) 3375-8899, (55) 99118-5145, (55) 99119-9065