Investigação tenta esclarecer por que Cristiano Ebert fugiu em alta velocidade após pedir ajuda da BM. Companheira dele era passageira da caminhonete e teve ferimentos leves
A companheira do médico Cristiano Ebert, 39 anos, morto na quarta-feira (23) em acidente de trânsito na RS-786, em Imbé, no Litoral Norte, teria passado mal durante a madrugada que antecedeu a tragédia. No início da manhã daquele dia, a mulher, 35 anos, e Ebert embarcaram em uma caminhonete Dodge Journey em busca de atendimento de saúde.
— Ainda não se sabe o que ela teve na madrugada. Foi instaurado o inquérito e vamos ouvir a companheira dele na semana que vem. No dia do acidente, a equipe conversou com ela no hospital, enquanto estava em atendimento. Os ferimentos eram leves, mas ela estava atordoada e não lembrava muita coisa — diz o delegado Rodrigo Nunes, titular da Delegacia de Polícia de Imbé.
Ele afirma que pretende concluir o inquérito até o dia 1º de agosto, após tomar os depoimentos da companheira e de um motorista de caminhão atingido pela caminhonete. O delegado também aguarda os resultados dos exames toxicológico e de alcoolemia de Ebert, além de imagens de câmeras de segurança que foram requisitadas.
O acidente causou ainda a morte do servidor público municipal William Juliano Pereira Pinós, 33. A caminhonete conduzida pelo médico capotou, invadiu a pista contrária e atingiu a moto que Pinós pilotava, no sentido oposto.
— Apesar dos nossos esforços, não terá indiciamento criminal porque quem deu causa e praticou o crime faleceu no local. É uma extinção de punibilidade — antecipa o delegado.
Na manhã de quarta-feira, minutos antes do sinistro, Ebert parou o veículo e abordou uma viatura da Brigada Militar na ponte Giuseppe Garibaldi, na divisa entre Tramandaí e Imbé. O médico disse que a companheira, sentada no banco do passageiro, havia sofrido um acidente doméstico e precisava ser conduzida com urgência ao pronto-atendimento. Os brigadianos relatam que escoltaram o veículo até uma uma unidade de saúde de Imbé.
Ebert teria apresentado agitação ao abordar a guarnição, mas em tom compatível com alguém que enfrentava emergência de saúde. Depois, a condução foi descrita como normal até a unidade de atendimento. Ebert estacionou no local destinado às ambulâncias, mas ninguém desembarcou.
— Ele cantou pneu e saiu acelerando. Isso causou estranheza e gerou o início da perseguição — comenta Nunes.
O médico percorreu, em fuga, cerca de oito quilômetros na RS-786. No bairro Albatroz, em Imbé, ele estaria em alta velocidade quando avançou sobre um quebra-molas. A caminhonete alçou voo, colidiu contra a traseira de um caminhão, capotou, invadiu a pista contrária e acertou o motociclista.
O que o casal fazia no Litoral Norte e o motivo da aparente fuga após chegarem à unidade de saúde são respostas que o delegado pretende obter ao colher novo depoimento da companheira. O relacionamento deles seria recente, de menos de um ano.
A mulher estava de cinto de segurança e sofreu um corte superficial no pescoço. Ela recebeu atendimento e foi liberada.
— O carro do Cristiano (médico) é bem seguro, tem vários air bags. Ele só veio a óbito porque estava sem cinto de segurança e foi projetado para fora do veículo. O corpo ficou próximo à caminhonete — diz o delegado.
A reportagem procurou familiares do médico, mas eles informaram não estar em condições emocionais de comentar o caso em razão do luto e da perda repentina. Clínico geral, Ebert era sócio de uma clínica em Barra do Ribeiro. A prefeitura de Tramandaí informou que ele não prestava atendimento em plantões no município, seja no hospital ou em postos de saúde.
A família de William Pinós também foi procurada, mas preferiu não se manifestar, devido ao abalo emocional. Ele era servidor concursado da Secretaria Municipal de Obras e Viação de Imbé desde 2022, no cargo de oficial geral de manutenção. Pinós deixou esposa e quatro filhos, de sete, cinco e três anos, e um bebê de sete meses.