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O que fez a dengue deixar de ser sazonal e se tornar uma doença presente o ano inteiro no RS



Número de casos cresce desde 2022, com mais de 4 mil testes positivos em 2024

Foto: Aplicação de inseticidas é uma das ferramentas utilizadas por prefeituras para tentar frear a proliferação do mosquito que transmite a dengue. Matheus Pé / ESPECIAL
16 de fevereiro de 2024

A incidência da dengue no Rio Grande do Sul tinha um perfil bem estabelecido até 2021. A partir do ano seguinte, o comportamento epidemiológico da doença começa a mudar. Ela deixa de ser sazonal, ou seja, de acontecer em um período específico do ano, e passa a ser contínua — apesar de a prevalência seguir mais relevante nos meses de verão. Em 2024, o Estado já registrou 4.045 testes positivos, até esta quinta-feira (15).

Conforme a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Rio Grande do Sul e doutora em Ciências Médicas, Roberta Vanacor, ao menos três fatores contribuem para o aumento de casos de dengue no território gaúcho: questões comportamentais, como as causadas pela pandemia de coronavírus, questões climáticas e os tipos de dengue que circulam atualmente.

— A gente teve uma explosão de casos em 2022. Muito em razão das equipes, tanto de assistência quanto de vigilância, estarem muito focadas na questão da pandemia. A própria observação ambiental e até adentrar os espaços, as casas, pois não era possível em razão da pandemia e a necessidade de distanciamento social, entre outras ações ambientais foram prejudicadas — explica a especialista.

Roberta comenta que, além das forças públicas, a população também ficou com a atenção voltada para a covid-19 e acabou relaxando com os cuidados no combate à dengue. Com a diminuição das precauções governamentais e coletivas, o número de criadouros de Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, aumentaram e, somado a isso, um segundo fator fez com que o aumento de casos de dengue tivesse ainda mais força.

— Em 2023 a gente observa uma mudança no comportamento climático. O Estado foi muito atingido pelo El Niño e, a partir de setembro, que foi justamente quando ocorreram chuvas intensas em curto espaço de tempo, a gente teve mais de cem municípios decretando uma situação de calamidade em razão desse desastre provocado pelas chuvas intensas. Isso deixou destroços, possibilitou a criação de novos ambientes para a proliferação dos mosquitos e a manutenção dos criadores já existentes.

Além da chuva intensa, outra mudança climática influenciou. As temperaturas amenas registradas nos invernos passados contribuíram com o ciclo de reprodução do Aedes aegypti, que depende do calor para eclodir os ovos. Essa é uma das principais causas do aumento de casos nos últimos anos durante os meses de inverno.

Em 2023, por exemplo, o inverno iniciou na 25ª semana epidemiológica e nesse período o Estado confirmou 466 casos da doença. Cenário bem diferente do que era encontrado nos anos anteriores, como em 2018, quando não houve nenhum novo paciente registrado com dengue. Os números indicam que o período de alta da doença tem ficado mais longo com o passar dos anos.

Apesar de ser menos intensa do que nos meses de alta temperatura, desde 2022, a dengue passou a estar presente nos períodos mais frios do ano. Isso também favoreceu para que a época de crescimento de casos começasse mais cedo do que nos anos anteriores.

Na visão do infectologista Fabiano Ramos, que liderou um estudo no Hospital São Lucas da PUCRS para desenvolver a vacina do Instituto Butantan contra a dengue, a mudança climática é o principal fator para a permanência da doença em diferentes períodos do ano no RS.

— O RS é bem grande, então, tem áreas como, principalmente, a região noroeste do Estado em que a dengue virou uma doença endêmica mesmo. E, principalmente, com os períodos de inverno não tão rigorosos, como no ano passado, acabou mantendo casos praticamente o ano todo — comenta Ramos, que complementa que a doença não é endêmica em todas as regiões do Estado.

Além disso, na opinião do infectologista, a pandemia somente acelerou a evolução da presença da dengue no RS, que já vinha acontecendo de forma gradual.

— Eu acredito que a pandemia pode ter acelerado, talvez um pouco, mas esse aumento vem desde o início dos anos 2000. A gente vem com cuidados não adequados desde que o mosquito ou desde que a doença entrou no Estado — analisa Ramos.

Por fim, a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do RS traz mais um fator que contribui para o aumento de casos e uma presença mais forte da doença no Estado. Conforme Roberta, atualmente existem dois sorotipos de dengue circulando no Estado, DENV 1 e DENV 2, o que contribui para o aumento de casos confirmados. Ramos concorda e complementa que esse é um fator que aumenta a chance das pessoas se infectarem:

— As pessoas que pegam pela primeira vez um tipo de dengue têm uma proteção cruzada por um certo tempo para as demais. Agora, é claro que estatisticamente ter dois sorotipos circulando, faz ter uma chance maior de contaminação das pessoas que se infectaram com um sorotipo diferente alguns anos atrás — explica o infectologista, que complementa a importância da vacinação que, atualmente, protege para os dois sorotipos que circulam no Estado.

Fonte : GZH 
Foto : Matheus Pé / ESPECIAL

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