Vítima é um aposentado, de 72 anos, que segue hospitalizado na UTI da Santa Casa de Pelotas
Foto: Polícia realizou coletiva na manhã de segunda-feira.
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS Um dos pontos que intriga a polícia em relação a um caso ocorrido em Pelotas, no sul do Estado, dentro de um hospital é o que pode ter motivado a mulher de 52 anos, presa no último final de semana, a tentar matar o marido internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Pelotas.
A polícia passou a investigar o caso no último dia 17 de dezembro, depois que a equipe médica desconfiou das visitas da mulher. Segundo a polícia, o paciente de 72 anos deu entrada no hospital no dia 5 de dezembro, com sintomas de acidente vascular cerebral. Depois disso, o idoso teve duas melhoras, mas, conforme a equipe médica, ele voltou a piorar e chegou a entrar em coma. As duas pioras teriam acontecido após visitas da mulher, nos dias 9 e 16.
A suspeita é de que a mulher tenha administrado um coquetel de medicamentos de uso controlado no marido, por meio de alimentos oferecidos a ele.
Na tarde desta terça-feira (23), estão sendo ouvidos dois depoimentos, considerados importantes para ajudar a compreender como era a relação do casal. Os dois estavam casados havia cerca de 30 anos, segundo relato da mulher à polícia, e são pais de três filhos. O idoso tem outros quatro filhos, de um relacionamento anterior.
— A gente vai começar a ouvir os filhos, justamente para identificar a dinâmica do casal. Os celulares (apreendidos com a mulher e familiares) também estão sendo encaminhados para o Instituto-Geral de Perícias (IGP) e a gente vai pedir prioridade — afirma a delegada Walquiria Meder, da Delegacia de Homicídios de Pelotas.
Ainda segundo a delegada, outras pessoas próximas do casal devem ser ouvidas. O homem ainda segue hospitalizado, em estado estável. Embora tenha apresentado melhora, segundo a equipe médica relatou à investigação, o idoso ainda estava confuso em relação aos acontecimentos, e, por isso, não foi ouvido pela polícia até o momento.
— A gente vai entrar em contato de novo com o hospital, para saber quando ele terá condições de ser ouvido — explica a delegada.
A perícia está analisando outros frascos de iogurte, que foram apreendidos no hospital. Conforme a delegada, ainda serão encaminhadas à perícia garrafas de água que foram levadas pela mulher até a casa de saúde. A suspeita é de que também haja medicamentos nesses itens.
Na primeira visita, em 9 de dezembro, a mulher levou um mingau para que o marido consumisse. A vítima, que estava se recuperando, perto de ter alta do hospital, em questão de horas, piorou e entrou em coma.
Na segunda visita, em 16 de dezembro, a suspeita ofereceu água ao companheiro. Nessa segunda vez, em cerca de 40 minutos, ele voltou a entrar em coma. A situação fez com que a equipe médica suspeitasse de um possível envenenamento.
Os médicos decidiram acionar a polícia e evitaram novas visitas da mulher. Por fim, no último dia 17, ela levou bebidas lácteas para o marido, mas, desta vez, a médica responsável acionou a Polícia Civil e entregou os iogurtes.
— Os médicos foram contundentes em afirmar que ele só não foi a óbito porque estava na UTI. Se não houvesse uma intervenção muito rápida, certamente ele teria morrido — disse a delegada.
Os frascos de iogurte foram encaminhados para análise do IGP. Também foi realizada coleta de urina do paciente. Os laudos confirmaram que havia alta concentração de um coquetel de medicamentos de uso controlado nos iogurtes apreendidos. As mesmas substâncias foram encontradas na urina e sangue do idoso.
Ainda conforme a investigação, nenhum desses medicamentos havia sido administrado no hospital. Os policiais realizaram buscas na residência da mulher. No local, foram apreendidas diversas caixas com os mesmos medicamentos constatados pelas perícias.
Segundo a perícia, foram encontrados no iogurte quatro medicamentos: um opioide, um sedativo, um remédio para pressão alta e um relaxante muscular.
Paulini Wegner, chefe da divisão de Toxicologia Forense do IGP, explicou que os componentes, sobretudo quando combinados, tinham o potencial de provocar uma depressão do Sistema Nervoso Central, e em consequência uma depressão respiratória, levando a uma necessidade de ventilação mecânica ou coma do paciente.
— Tratamos, desde o início, este caso como urgência, pois geralmente este tipo de análise em casos semelhantes é feita após o óbito. Mas, sabendo da necessidade, em parceria com a Polícia Civil nos foi trazido os alimentos e amostras da urina para identificar o que o paciente estava recebendo via oral e o que estava no organismo — declarou em coletiva à imprensa.
Zero Hora entrou em contato com a casa de saúde sobre o caso. A Santa Casa de Pelotas enviou a seguinte manifestação:
“Comunicamos que o hospital, bem como seus colaboradores, não estão autorizados a prestar ou divulgar quaisquer informações relativas ao referido caso. Informamos, ainda, que a situação encontra-se, neste momento, sob a apuração e responsabilidade das autoridades policiais competentes.”
(55) 3375-8899, (55) 99118-5145, (55) 99119-9065