Assessor jurídico de Faxinal do Soturno é acusado de vazar informações sigilosas sobre operação policial que investigava a atuação dos grupos criminosos
Foto: Dos presos na operação Quarta Colônia Livre, deflagrada em 21 de agosto, 38 permanecem detidos.
Polícia Civil / Divulgação A Polícia Civil indiciou 62 pessoas no inquérito que investiga a atuação de grupos criminosos envolvidos com o tráfico de drogas em municípios da Quarta Colônia, na Região Central do Estado. Os crimes apurados incluem corrupção de menores, organização criminosa, tráfico de drogas e obstrução da Justiça.
O inquérito foi remetido ao poder judiciário na última segunda-feira (20). De acordo com a investigação, os envolvidos atuavam distribuindo entorpecentes ou repassando informações dentro de um esquema que abrangia as cidades de Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Agudo, Nova Palma, Restinga Sêca e São João do Polêsine.
A Polícia Civil apurou que o comando do tráfico na região tinha ligação com uma organização criminosa da Região Metropolitana, e que as ordens partiam de dentro da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas. Outra característica é o uso de mulheres – sem antecedentes policiais – que atuavam na logística financeira dos grupos.
— Tinha uma pessoa, que está presa em Santa Maria, que era responsável por pegar a droga aqui e levá-la para Faxina do Soturno. Lá tinha uma pessoa, por exemplo, que vinha lá de Agudo, buscava essa droga e levava para Agudo e também para Paraíso do Sul. Já outros levavam para Dona Francisca. Ou seja, tinha toda uma logística de distribuição – descreve o delegado Sandro Meinerz, titular da 3ª Delegacia de Polícia do Interior.
Entre os indiciados está o assessor jurídico da prefeitura de Faxinal do Soturno, Edson Lorenzoni Júnior, acusado de utilizar o cargo para vazar informações sobre uma operação realizada em agosto, já relacionada a esta investigação, que resultou na prisão de 62 pessoas. Segundo o delegado Meinerz, há evidências de trocas de mensagens entre o servidor e o líder de um dos grupos criminosos.
— A baixa quantidade de drogas encontradas durante a operação foi o que motivou a polícia a seguir investigando. Na análise de celulares apreendidos, os policiais verificaram que, horas antes da ação acontecer, o assessor jurídico da prefeitura teria vazado informações ao chefe do tráfico de drogas na cidade.
Em nota, Lorenzoni negou as acusações e afirmou que o contato com o suspeito ocorreu em razão de sua atuação como advogado de defesa. Já a prefeitura de Faxinal do Soturno informou que exonerou o servidor, que ocupava cargo de confiança. Confira os posicionamentos, abaixo, na íntegra:
Nota da prefeitura de Faxinal do Soturno
“O Município de Faxinal do Soturno, diante das informações veiculadas acerca do indiciamento do então Assessor Jurídico Municipal, no âmbito de investigação conduzida pela Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, sob a coordenação do Delegado Regional de Polícia, Dr. Sandro Meinerz, vem a público esclarecer que adotou, de forma imediata, as providências cabíveis, procedendo à exoneração do referido servidor, com efeitos a partir de hoje.
Embora ainda não haja decisão judicial definitiva sobre os fatos investigados, o Município entende que a permanência do servidor em cargo de confiança mostra-se incompatível com os princípios que regem a administração pública, em especial os da moralidade, da transparência e do zelo pelo interesse coletivo. O Município reafirma seu compromisso com a ética, a probidade e a legalidade na condução dos atos administrativos, mantendo posição contrária a qualquer conduta que possa configurar prática ilícita ou comprometer a confiança da população nas instituições públicas.
Ao mesmo tempo, a Administração reconhece e respeita o direito ao contraditório e à ampla defesa do ex-servidor, garantias fundamentais asseguradas pela Constituição Federal a todo cidadão no Estado Democrático de Direito.
O Município de Faxinal do Soturno seguirá sempre pautado pelo interesse público e pela transparência administrativa.”
Nota de Edson Lorenzoni Júnior
“Diante das recentes declarações e publicações veiculadas na imprensa e nas redes sociais, venho esclarecer que não fui preso e não pratiquei qualquer ato de obstrução de justiça.
A conversa mantida com meu cliente ocorreu exclusivamente dentro do âmbito profissional da advocacia, sem qualquer relação com a operação conduzida pelas autoridades, que sequer eu tinha conhecimento!
A tentativa de transformar um diálogo técnico entre advogado e cliente em elemento de suspeita representa uma indevida criminalização da advocacia e contribui para a banalização do exercício da defesa, que é um dos pilares do Estado Democrático de Direito.
Ressalto que, conforme o próprio delegado declarou à imprensa, todos os mandados foram cumpridos com sucesso e todos os alvos foram presos, o que demonstra, de forma inequívoca, que não houve qualquer vazamento de informações.
Esclareço, ainda, que a arma mencionada não se trata de objeto ilícito, mas sim de bem integrante de inventário judicial, regularmente partilhado a uma cliente mediante decisão judicial que determinou sua regularização perante o órgão competente.
Importante frisar que a Prefeitura Municipal não atua em apoio a esse tipo de operação, justamente por se tratar de ações sigilosas e de exclusiva condução policial e ministerial, o que reforça que não havia qualquer motivo para se presumir envolvimento institucional, e isso será devidamente comprovado!
Além disso, é de conhecimento público que já circulavam comentários na cidade sobre a possibilidade de uma operação, o que demonstra que tais rumores não tiveram origem em mim nem em qualquer atuação profissional minha. Esses elementos serão devidamente apresentados no momento processual oportuno, dentro dos meios legais e com o respeito às instituições.
Já acionei a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/RS, que acompanha o caso e tomará as providências cabíveis diante da violação das prerrogativas profissionais e da divulgação indevida de informações sigilosas.
Reitero minha confiança na Justiça e nas instituições, e sigo colaborando com total transparência para o esclarecimento dos fatos.
Edson Lorenzoni Junior
Advogado – OAB/RS 110143″
Dos presos na operação Quarta Colônia Livre, deflagrada em 21 de agosto, 38 permanecem detidos, enquanto dois adolescentes cumprem medida socioeducativa em regime de semiliberdade. Contudo, nem todos os presos na época foram indiciados.
(55) 3375-8899, (55) 99118-5145, (55) 99119-9065