Prefeituras usam diferentes estratégias para frear avanço da dengue no RS; veja como fazer sua parte - Agora Já -

Prefeituras usam diferentes estratégias para frear avanço da dengue no RS; veja como fazer sua parte



Municípios diversificam ações para combater focos do mosquito Aedes aegypti e ampliar engajamento da população

Foto: Prefeituras como a da Canoas, na Região Metropolitana, trabalham para combater focos do mosquito da dengue. Matheus Pé / ESPECIAL
10 de fevereiro de 2024

A dengue tem se alastrado pelo Rio Grande do Sul, que já tem mais de 90% dos municípios infestados e três registros de morte pela doença até esta sexta-feira (9). Em meio a esse cenário, as prefeituras correm para combater o mosquito que transmite o vírus, adotando diferentes frentes de ação.

Os municípios consultados pela reportagem adotam estratégias semelhantes para garantir um combate eficiente: visitas e orientações à população – cuja atuação é fundamental para frear o avanço da doença (veja abaixo como ajudar) –; fiscalizações; aplicações de inseticidas; distribuição de repelentes; reforço no atendimento médico e nas testagens; ações de limpeza urbana; entre outras.

Uma novidade relativamente recente é o uso de borrifação residual intradomiciliar, que vem sendo cada vez mais adotado pelos municípios, permitindo a aplicação de inseticida dentro das residências com casos confirmados, com ação prolongada.

Diferentes motivos são elencados para a proliferação de casos. Um deles é o ano atípico de 2023, quando não houve uma estação de inverno bem definida, somado ao El Niño, que trouxe chuva e calor, situações que resultaram em multiplicação de focos do mosquito Aedes aegypti.  Também há a dificuldade em acessar residências por parte de agentes de saúde e endemia, o que complica o combate ao problema.

Na Capital, há 51 casos confirmados. A prefeitura tem um Plano de Contingência em ação, com monitoramento semanal. Diferentes frentes são promovidas: treinamento para identificação precoce dos casos suspeitos; implementação de um sistema de notificação online para agilizar a investigação e as ações; ampliação do número de pontos de coleta de exames e de estoques de medicamentos; e capacitação de farmácias para a notificação dos casos suspeitos e onde ocorrem.

De acordo com a prefeitura, as atividades dos agentes de combate a endemias estão direcionadas a áreas com maior infestação de mosquitos e com confirmação de casos. Eles também identificam pessoas com sintomas e orientam cuidados em saúde e busca de atendimento. Bloqueios químicos, com borrifação de inseticidas, também são acionados conforme análise técnica.

O cenário na Capital é “bastante preocupante” e difere de outros anos, segundo o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter. Ainda assim, devido ao período de férias, a cidade está com um número reduzido de pessoas, e muitos moradores estão circulando por outros Estados, onde há situações ainda mais críticas.

— A gente percebe que, dos 46 bairros que a gente tem hoje armadilhas, em 43 o nível de infestação é muito crítico — alerta. — A gente sabe que vai piorar bastante a condição. Mas a gente se preparou.

Há três grandes problemas no combate à dengue, segundo Ritter: o acúmulo de lixo por parte das pessoas; a falta de conscientização da dimensão do problema de saúde pública; e a dificuldade de os agentes serem liberados para entrar nas casas – os moradores, por vezes, chegam até mesmo a se esconder.

Na quinta-feira (8), a reportagem de GZH acompanhou uma ação no bairro Restinga, que buscava orientar e conscientizar moradores, além de identificar possíveis ocorrências do mosquito. No entanto, muitas casas aparentavam estar vazias, e somente uma pessoa aceitou receber os agentes. O morador, no entanto, não quis conversar com a reportagem, visto que foram encontradas larvas em seu terreno.

— Normalmente, quando a gente entra na casa dos moradores, no início sempre dizem que não tem água acumulada, mas, ao passar os olhos e começar a conversar, a gente observa que tem muitas coisas acumuladas com água. Piscina, às vezes, pratinhos de planta com rega acumulando — afirma Selmar Severo, agente de endemias e facilitador do eixo Zona Sul.

Por outro lado, em Canoas, onde há 46 casos confirmados, uma ação realizada no bairro Estância Velha, também nesta quinta-feira, resultou êxito junto aos moradores – mais de 85% das pessoas que estavam em casa permitiram a visita, segundo o médico veterinário e técnico da Vigilância em Saúde de Canoas, Roger Halla.

Na ocasião, foi promovido o bloqueio vetorial, que consiste na aplicação de inseticida em um raio de até 150m de um caso-índice (o primeiro da área) e que tem sido utilizado pelas prefeituras. Os agentes também orientaram os moradores. Caso os imóveis estejam fechados, a aplicação é feita por fora. O bairro já recebeu outros bloqueios desde janeiro.

— Está com tensionamento de um surto epidêmico nessa região do bairro Estância Velha. A gente está conseguindo trabalhar fortemente na região para não tomar uma proporção maior, não espalhar na cidade, com vários bloqueios e rastreabilidade para justamente orientar — diz, apelando que a população faça um checklist semanal em sua residência.

A administração promove uma pesquisa vetorial especial, com varreduras nos bairros, fiscalização sanitária e eliminação de criadouros por meio de ações como a pulverização. Ocorre ainda a coleta das larvas, que são encaminhadas para identificação em laboratório. Em outra frente, a prefeitura realiza a busca ativa de casos, notificando todas as suspeitas para favorecer o diagnóstico e o tratamento oportuno.

Piores cenários

A região Noroeste é uma das que enfrenta um dos piores cenários no RS. Além de registrar uma das mortes pela doença, Tenente Portela, que está em situação de emergência, é a cidade com o maior número de casos (932) e notificações (952) no Estado. Para o prefeito, a situação espelha uma questão nacional e global.

Contudo, o volume de casos pode ser explicado por diversos fatores, que incluem a alta testagem, a ocorrência de dengue em cidades próximas e um possível desleixo ao longo do fim de ano por parte da população. O cenário, entretanto, aparenta estar melhorando, com diminuição gradativa nos atendimentos em postos de saúde, de acordo com o prefeito Rosemar Sala.

— A gente vê que está começando a surtir efeito toda a batalha que estamos desenvolvendo para debelar o mosquito e, por consequência, a dengue — afirma, ressaltando que, ainda assim, é preciso ter cautela.

O que é jornalismo de soluções, presente nessa reportagem?

É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.

As ações seguem sendo reforçadas, principalmente em locais com maior incidência, e incluem visitação com intervenção em entulhos e materiais, cobranças à comunidade para evitar criadouros e borrifação com fumacê. A resistência ao ingresso de agentes nas casas é menor do que o esperado, conforme Sala. A maior dificuldade é a rápida proliferação do mosquito – em função disso, o fumacê perde efeito em alguns dias, e os mosquitos voltam a circular.

— Para ganhar mais rapidamente, precisamos muito da comunidade. A intenção é que todo mundo se conscientize. Cada um fazendo a sua parte, não teremos dengue ou mosquito — apela o prefeito.

A situação também inspira cuidados em Barra do Guarita, cidade do Noroeste de apenas 3 mil habitantes, onde 10,5% da população (331) já foi infectada. As ações, por lá, incluem ainda limpezas na costa dos rios – há dois que banham a cidade, que enfrentou quatro enchentes ao longo do último ano.

Isso resultou em acúmulo de lixo e formação de depósitos de água, de acordo com o prefeito Rodrigo Locatelli Tisott. Outro fator que pode ter contribuído para o agravamento da situação é a passagem diária de centenas de pessoas em uma travessia de balsa até Itapiranga (SC), onde trabalham diversos moradores da cidade, que podem levar ou trazer a doença, na avaliação do prefeito.

— São várias as ações que, em conjunto, aliás, estão nos fazendo agora conseguir reverter esse quadro bastante crítico no município — destaca Tisott.

Na Região Metropolitana, por sua vez, Novo Hamburgo é a cidade mais afetada, com 348 casos confirmados. A cidade conta com estratégias que incluem uma parceria com a Universidade Feevale para trabalho de campo, com orientação e auxílio à comunidade. Na ocorrência de casos positivos, também são feitos os bloqueios vetoriais, com o uso de caminhonetes ou a pé, e borrifação residual intradomiciliar. Pelo menos 95 escolas municipais receberão inseticida no pátio antes do retorno às aulas. Para Débora Bassani, gerente da Vigilância Sanitária de Novo Hamburgo, o alto número de casos pode estar relacionado ao trabalho de notificação e diagnóstico.

— Realmente o cenário é preocupante, estamos tendo consideráveis aumentos dos casos, com muitos confirmados nas últimas semanas. O bairro que possui o maior número de casos é Vila Diehl, seguido de São Jorge e Boa Saúde, compreendendo, em média, 80% neles. As nossas equipes estão sensibilizadas — afirma Débora, acrescentando que o ano de 2024 continuará causando preocupação.

Mais de 70% dos criadouros são encontrados em pátios, segundo a gerente da Vigilância Sanitária. As maiores dificuldades estão relacionadas aos imóveis fechados ou abandonados. Apesar do cenário preocupante no RS, alguns municípios conseguiram repelir o Aedes aegypt, como Santa Vitória do Palmar, uma das cidades não infestadas no Estado. A prefeitura destaca, em nota que o segredo passa por programas de conscientização e ações de controle de vetores.

Um Aedes do bem

Iniciativas tecnológicas também têm se tornado aliadas no combate ao vírus, como uma armadilha desenvolvida no RS que atrai o mosquito com levedo de cerveja, bem como o Aedes do Bem, uma ferramenta preventiva. O produto utiliza mosquitos machos modificados geneticamente para limitar a reprodução da própria espécie.

Ele já está presente na proteção de algumas instituições e empresas, como a AGCO de Canoas, BRF Pets e CTA Continental. O complexo hospitalar Santa Casa, que também adotou a tecnologia, avalia que, por mais que antes da instalação não houvesse registros significativos de mosquitos da dengue no local, a iniciativa prosperou, especialmente porque os registros continuam sem expressividade, mesmo com o grande aumento de focos e casos em Porto Alegre.

— Pode ajudar muito. Reduziu 96% da população em Indaiatuba, e em Piracicaba, 98%. É uma tecnologia, ela não é milagrosa, simplesmente consegue preencher lacunas do que a gente faz como metodologia, do que as prefeituras adotam como protocolo. O inseticida não alcança todos os cantos, a vigilância do morador não consegue encontrar o local mais escondido. O mosquito combate o mosquito e encontra criadouros mais escondidos. Ela traz eficiência complementando o que já é adotado, nossos resultados comprovam isso — explica Luciana Medeiros, bióloga e coordenadora de vendas da Oxitec, empresa responsável pelo Aedes do Bem.

A única prefeitura a adotar a tecnologia no Estado foi Segredo, no Vale do Rio Pardo, em janeiro. A cidade instalou 28 caixas com os mosquitos em pontos estratégicos e 10 armadilhas. A vistoria é feita semanalmente, coletando o mosquito para analisar se é macho e se o número está aumentando. Após a verificação, ele é liberado no ambiente para continuar reproduzindo. Até o momento, o município teve apenas um caso importado de dengue – o que serviu de alerta para buscar a iniciativa e evitar casos.

— Está em desenvolvimento, no início. O resultado que temos no momento é que está mesmo proliferando o mosquito macho, que é o objetivo do projeto. Mas é um trabalho preventivo, o resultado vai acontecer a longo prazo. Estamos felizes de ser os primeiros e acolher ideias boas, beneficiando a população em um momento bem pertinente — avalia a secretária municipal de saúde de Segredo, Vanusa Fernandes.

A responsabilidade de cada um

Matheus Pé / ESPECIAL
População deve estar atenta a criadouros e acolher trabalho de agentes de saúde.Matheus Pé / ESPECIAL

Apesar de já existirem vacinas contra a dengue, elas ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) no RS, apenas na rede privada. Os especialistas reforçam que o mosquito fêmea, que é quem transmite a doença, não se afasta mais do que cerca de 150 metros do criadouro – portanto, se há um mosquito perto da sua casa, há um criadouro.

Confira métodos de prevenção que a sociedade deve adotar, segundo as prefeituras:

  • Receber os agentes de endemia – caso haja dúvidas, entre em contato com a prefeitura para a confirmação da identidade
  • Eliminar água parada dos pratinhos e vasos de plantas
  • Manter caixas d’água, tonéis e lixeiras tampados
  • Manter ralos limpos e com aplicação de tela – colocar água sanitária nos ralos e em locais onde não seja possível alcançar para esvaziar
  • Secar pneus e protegê-los da chuva
  • Manter as calhas limpas
  • Escovar os pratos (1x por semana) e trocar a água dos pets diariamente
  • Manter piscinas limpas e com água tratada
  • Usar repelente para o corpo e de ambiente
  • Colocar telas em portas e janelas das casas
  • Destinar adequadamente o lixo
  • Não acumular entulhos no pátio
  • Manter as calhas sempre limpas
  • Deixar garrafas sempre viradas com a boca para baixo
  • Eliminar ou preencha pratos de vasos de plantas com areia
  • Limpar com escova ou bucha os potes de água para animais
  • Retirar água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa
  • Renovar semanalmente a água das bromélias com jato da mangueira
Fonte : GZH 
Foto : Matheus Pé / ESPECIAL

Um dos desafios dos agentes de saúde é a premissão para acesso às casas.
Matheus Pé / ESPECIAL

O ano atípico de 2023, com maior volume de chuva, também afeta proliferação do aedes.
Matheus Pé / ESPECIAL

Ação nesta quinta, em Canoas, foi realizada no bairro Estância Velha.
Matheus Pé / ESPECIAL

 


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