Jovem atacante marcou dois dos três gols colorados na vitória sobre o Bragantino e deve ser o escolhido para iniciar a partida de quarta-feira, pela Libertadores
Roger Machado deixa de lado a sisudez, as expressões técnicas, as análises científicas quando fala de Ricardo Mathias. Quando trata do jovem (e novo) centroavante (titular) colorado, o treinador volta a ser um cara da bola, com gíria do campo e do vestiário. Fica mais leve, mais solto. É esse o espírito que quer para o guri de 19 anos na quarta-feira (13), quando o Inter visita o Flamengo na abertura das oitavas de final da Libertadores.
Ricardo Mathias está passando por um processo que se costuma chamar de lapidação. É uma etapa importante para quem sai da base e entra no profissional. Como uma pedra, que vai sendo preparada para virar joia. Isso envolve treino, comportamento, personalidade, frustrações, alegrias e cabeça no lugar para lidar com as oscilações. A tarefa de Roger é controlar tudo.
Por isso, abriu sua análise sobre Mathias usando a ciência. Falando em termos específicos da educação física e da anatomia, treinabilidade e fibras rápidas. Explicou que um jogador de 1m95cm e 95kg precisa de mais preparo físico do que alguém mais baixo e mais leve. Que um atleta dessa envergadura, se não estiver muito bem preparado, ou não vai conseguir jogar ou vai se lesionar.
Mas, por mais que a ciência seja fundamental no futebol atual, é a parte da relação interpessoal, do futebol romântico a que fez Roger mudar a linha das respostas. Por exemplo, perguntado sobre como atuou para Ricardo Mathias ficar mais atento e participativo no treino, deu uma resposta que não consta nos manuais das academias, mas vive nos campinhos das ruas:
— Cagando ele a grito.
Claro que depois ampliou, já incluindo Borré e Valencia na resposta:
— O jogador de alto nível consegue perceber o momento de seus pares. Se essa for minha escolha, eles vão ajudar a construir o processo maravilhosamente bem. O Mathias é um menino bom de ouvido.
Uma dessas mudanças que Roger exigiu e está ensinando a Mathias é a respeito do comportamento. E contou uma história interessante:
— Na base, via ele jogando entre os zagueiros só, esperando, levantando o dedinho e pedindo a bola pra área. Daí eu disse: “Primeira coisa, nem na várzea mais pede a bola levantando o dedinho, né? A energia do nosso movimento é que faz o teu colega enxergar que tu é a melhor opção. Então tu precisa, primeira coisa, alternar ritmo no jogo. Teu ritmo é muito, muito linear. Eu, que tenho a bola, não sei nunca quando tu estás à disposição para receber meu passe. Pode continuar trotando, mas quando eu fixar o olho em ti, troca de ritmo, pede o passe. A segunda coisa é que não quero te ver só entre os zagueiros. Porque tu é grande, as pessoas acham que vai jogar só dentro da área. Tens capacidade de jogar pelos lados do campo. Vai ter mais tempo se jogar nos três corredores.
A partir desta segunda-feira (11) o desafio de Roger é trabalhar a condição física, técnica e, principalmente, psicológica de seu novo centroavante. Ele já deu boas respostas em condições adversas, como quando fez o gol de empate nos acréscimos em Itaquera contra o Corinthians, ou quando abriu o placar contra o Nacional, no Uruguai, na atual Libertadores.
O adversário será o Flamengo, o que aumenta a pressão e a dificuldade. Mas também aumenta a visibilidade. Ricardo Mathias vem sendo observado por clubes europeus e uma noite boa no Maracanã aumenta seu valor. O que pode confirmar a teoria de Roger e sua frase definitiva: