Além de Sheikh Hasina, o tribunal também condenou o ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan, à morte no caso, enquanto um terceiro suspeito — um ex-chefe de polícia — foi sentenciado a cinco anos de prisão
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Bangadesh condena ex-primeira-ministra Sheikh Hasina por crimes contra a humanidade
A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte. A ONU aponta que 1.400 pessoas morreram. Crédito: AFP
DACA – A Justiça de Bangladesh condenou nesta segunda-feira, 17, a ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, de 78 anos, à morte por crimes contra a humanidade relacionados ao levante popular do ano passado, que matou centenas de pessoas e pôs fim aos seus 15 anos de governo.
“Todos os elementos (…) constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos”, declarou o juiz do tribunal de Daca, Golam Mortuza Mozumder. “Decidimos impor uma única pena, a pena de morte”, acrescentou.
O Tribunal Penal Internacional, com sede em Daca, também condenou o ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan, à morte por seu envolvimento no uso de força letal contra manifestantes.
Tanto Sheikh quanto Khan fugiram para a Índia no ano passado e foram condenados à revelia.
Um terceiro suspeito, um ex-chefe de polícia, foi condenado a cinco anos de prisão após se tornar testemunha do Estado contra Sheikh e se declarar culpado.
Na foto, a ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina. Foto: Indranil Mukherjee/AFP
Sheikh e Khan foram acusados pelo assassinato de centenas de pessoas durante um levante estudantil em julho e agosto de 2024. O conselheiro de saúde do governo interino afirmou que mais de 800 pessoas morreram e cerca de 14 mil ficaram feridas. No entanto, um relatório das Nações Unidas, divulgado em fevereiro, indicou que o número de mortos pode ter chegado a 1,4 mil.
A ex-primeira-ministra de Bangladesh afirma que as acusações são injustificadas, argumentando que ela e Khan “agiram de boa fé e estavam tentando minimizar a perda de vidas”.
“Perdemos o controle da situação, mas caracterizar o ocorrido como um ataque premeditado contra cidadãos é simplesmente interpretar mal os fatos”, disse ela na segunda-feira em um comunicado denunciando o veredicto.
O veredicto surge num momento em que o país ainda enfrenta instabilidade após a destituição de Sheikh em 5 de agosto de 2024. O laureado com o Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, assumiu a chefia de um governo interino três dias após a queda dela. Yunus prometeu punir Sheikh e proibiu as atividades de seu partido, o Liga Awami.
Um tribunal composto por três membros, presidido pelo juiz Golam Mortuza Mozumder, anunciou a decisão do tribunal, em sessão que foi transmitida ao vivo.
Agentes de segurança fazem a guarda enquanto manifestantes tentam demolir a residência de Sheikh Mujibur Rahman, o primeiro presidente de Bangladesh e pai da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina, em Daca, nesta segunda-feira, 17. Foto: Munir Uz Zaman/AFP
Alguns dos presentes no tribunal lotado aplaudiram quando Mazumder anunciou a pena de morte para Sheikh. Ele os advertiu, dizendo-lhes para expressarem seus sentimentos fora do tribunal.
Muitas famílias dos mortos e feridos durante a revolta do ano passado esperaram horas do lado de fora do tribunal antes do veredicto.
Parecia improvável que Sheikh retornasse a Bangladesh para cumprir sua sentença. A Índia não havia respondido aos pedidos de extradição de Bangladesh para que ela fosse julgada.
O governo interino reforçou a segurança antes do veredicto, com guardas de fronteira paramilitares e policiais destacados em Daca e em muitas outras partes do país.
O partido Liga Awami de Sheikh convocou uma paralisação nacional em protesto contra o veredicto na segunda-feira.
A ex-primeira-ministra de Bangladesh denunciou a decisão de segunda-feira, classificando-a como “tendenciosa e politicamente motivada” em um comunicado. Ela também denunciou o tribunal como “fraudulento” e alegou que ele foi “criado e presidido por um governo não eleito e sem mandato democrático”.
“Em seu repugnante apelo pela pena de morte, eles revelam a intenção descarada e assassina de figuras extremistas dentro do governo interino de destituir o último primeiro-ministro eleito de Bangladesh e de anular o Liga Awami como força política”, disse Sheikh.
Ela não pode recorrer da sentença a menos que se entregue ou seja presa dentro de 30 dias após a sua publicação.
Nos últimos dias, as tensões e os distúrbios aumentaram no país antes do veredicto. Quase 50 ataques incendiários, a maioria contra veículos, e dezenas de explosões de bombas caseiras foram relatados em todo o país na última semana. Duas pessoas morreram nos ataques incendiários, segundo relatos da mídia local.
As autoridades do Supremo Tribunal, em carta enviada ao quartel-general do exército no domingo, 16, solicitaram o destacamento de soldados nos arredores do tribunal antes da leitura da sentença.
Yunus afirmou que seu governo interino realizará as próximas eleições do país em fevereiro e que o partido de Sheikh não terá a chance de concorrer.
A política de Bangladesh sob o governo de Yunus permanece em uma encruzilhada, com poucos sinais de estabilidade. /AP e AFP
Fonte, redação e fotos: Estadão150
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