Restos mortais da vítima foram encontrados quase um ano depois do crime, em janeiro de 2019, às margens da BR-158
O mandante e o executor do assassinato da contadora Sandra Mara Lovis Trentin, em 2018, tiveram sentença proferida pela Justiça na noite desta quinta-feira (26), após dois dias de julgamento, na Comarca de Palmeira das Missões, no norte do Estado.
Na decisão do Tribunal do Júri, Paulo Ivan Baptista Landfeldt — marido de Sandra e ex-vereador de Boa Vista das Missões — foi condenado a 34 anos e dois meses de prisão em regime fechado. Ele é considerado o mandante do crime.
Já Ismael Bonetto, apontado como executor do assassinato, deverá cumprir 22 anos e quatro meses de reclusão também em regime fechado.
Ambos os réus foram condenados pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe, mediante paga ou promessa de recompensa, com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima, e feminicídio. Eles também foram condenados pelo crime conexo de ocultação de cadáver.
Em nota, a defesa de Ismael Bonetto disse que irá se manifestar nos próximas dias se irá recorrer ou não da sentença e que demonstrou “que não houve disparos de arma de fogo” (leia a íntegra no fim da reportagem).
O advogado Alexandre Hennig, que representa Paulo Ivan Baptista Landfeldt, disse que respeita a decisão. Contudo, afirma que “não há qualquer elemento que vincule o Paulo Ivan ao crime cometido contra a vítima” e que por isso apresentará recurso pela anulação do julgamento e por uma nova sessão.
Na quarta-feira (25), no primeiro dia de julgamento, familiares e amigos de Sandra se reuniram em frente ao Fórum de Palmeira das Missões, onde ocorria o processo legal, em memória à mulher morta em 2018. Silenciosa, a manifestação carregou o peso do luto e da angústia de quatro irmãos, todos filhos de Sandra.
Naquele dia, oito testemunhas prestaram depoimento, além disso, o mandante do crime também respondeu a um interrogatório. Ele negou participação no crime.
O segundo dia de julgamento contou com a oitiva do executor do crime, que também negou ligação com o assassinato. Na sequência, ocorreu a apresentação das teses de acusação e defesa aos jurados. A votação e o proferimento da sentença selaram o júri.
O júri foi presidido pelo Juiz de Direito Gustavo Bruschi, da Vara Criminal da Comarca de Palmeira das Missões.
Segundo a denúncia do Ministério Público, o marido de Sandra planejou e ordenou a morte para encerrar o relacionamento conjugal sem a necessidade de partilha do patrimônio do casal.
Ela e Landfelt eram casados e residiam com os filhos menores de idade em Boa Vista das Missões. O réu teria contratado Ismael Bonetto e outros executores — não identificados pela investigação — para assassinar a vítima. A denúncia afirma que a mulher foi surpreendida sob ameaça de arma de fogo e levada a um local ermo do município, onde foi morta a tiros.
Depois, conforme o MP, os réus ocultaram o cadáver de Sandra. O homicídio teria ocorrido entre 30 de janeiro e 17 de fevereiro de 2018, e a ocultação do cadáver entre os dias 20 e 22 de fevereiro.
Os restos mortais da contadora só foram encontrados quase um ano depois, em janeiro de 2019, às margens da BR-158 entre Palmeira das Missões e Condor — a cerca de 40 quilômetros de onde a contadora sumiu.
Sandra Mara saiu da casa onde residia com o marido e três filhas, de 16, 11 e cinco anos na época, em Boa Vista das Missões, na manhã de 30 de janeiro de 2018. A contadora pegou a caminhonete que estava na residência do cunhado, passou no escritório de contabilidade, na mesma rua, e, por volta das 7h30min, seguiu para Palmeira das Missões.
Sandra Mara chegou a passar na Junta Comercial, no centro da cidade vizinha. Depois disso, circulou pelas ruas da área central e estacionou na Rua Rio Branco, ao lado de um CTG. A partir dali, não foi mais vista.
“A defesa do Ismael Bonetto demonstrou pela prova dos autos que não houve disparos de arma de fogo e que o suposto orifício presente na blusa de manga longa da vítima, que sustentava a causa mortis de disparo de arma de fogo, ficou evidenciado o equívoco na narrativa acusatória.
Entretanto, o conselho de sentença entendeu por condenar Ismael. Decisão está respeitada pela defesa técnica.
Nós próximos dias a defesa irá se manifestar se recorrerá ou não da decisão”.